Túmulo de Paulo dias de Novais Sec. XVI

Uma “Relação da Costa de Guiné”, de autor anónimo, datada de 1607, diz-nos que “O comércio de Angola se descobriu desde o tempo de El-Rei Dom João o segundo, posto que com pouca frequência. E neste tempo o Rei de Angola era amigo e quase súbdito de Rei do Congo e lhe mandava cada ano seu tributo, em modo de presentes, e com sua licença iam os portugueses negociar à Ilha de Luanda […] E tudo o que ali se resgatava se vinha despachar à Ilha de S. Tomé…” São palavras escritas alguns anos depois dos acontecimentos mais relevantes que marcaram o estabelecimento das relações de Portugal com o reino do Congo, mas revelam a forma como, paulatinamente, os navegadores lusos se foram aventurando mais a sul, nas imediações da actual cidade de Luanda e da barra do Cuanza, onde procuravam escravos, cobre, marfim e muitas outras mercadorias ricas.

No século XVI, ao lado do Reino do Congo, assiste-se à ascensão do rei de Angola (O Ngola) e uma convicção portuguesa de que nas terras do Ngola se encontrariam outros metais preciosos de que carecia a moeda em terras de Portugal. 

O nome deste reino está na origem do que foi a colónia e a província portuguesa, e do que é hoje a República de Angola, mas era, no século XVI, apenas um estreito território entre os rios Dande e Cuanza, estendendo-se para o interior até ao rio Lucala ou à região de Malange.

No final da década de quarenta do século XVI, o Ngola enviou uma embaixada a D. João III, pedindo-lhe missionários e outros apoios para o seu reino, mas os seus emissários ficaram retidos em S. Tomé durante 9 anos só chegando a Lisboa em 1558. Nessa altura, porém, Dª Catarina preparou a ida de uma missão diplomática, para a chefia da qual foi nomeado Paulo Dias de Novais, um neto do navegador Bartolomeu Dias. Partiram de Lisboa a 22 de Dezembro de 1559, passaram por Cabo Verde e S. Tomé, tiveram grande dificuldade em vencer a foz do Zaire, por causa da corrente, e aportaram em Mpinda (S. António do Zaire), onde fizeram aguada e embarcaram lenha. Chegaram à barra do Cuanza em 3 de Maio de 1560, ficando fundeados ao largo, numa posição muito fragilizada pelas condições do mar.

 Paulo Dias esperou 6 meses até se decidir a ir ao encontro do Ngola, que já não era o mesmo que enviara a embaixada a Lisboa dez anos antes. O processo que se seguiu não é muito claro, sabendo-se que o rei os recebeu muito bem e os agasalhou durante algum tempo, mas, subitamente, mudou de comportamento: mandou executar todos os elementos da embaixada que seu pai enviara a Lisboa e que agora regressavam com os portugueses, mantendo estes presos em condições que os relatos dizem ter sido precárias e sempre em perigo de vida. E, se pouco se sabe dos pormenores deste cativeiro, o mesmo acontece com as circunstâncias em que Dias de Novais foi libertado em 1565, conseguindo chegar a Lisboa em 1567, onde tudo relatou a D. Sebastião.

Aparentemente, o Ngola pedia ao rei de Portugal que o ajudasse numa guerra difícil com um seu rival, mas os documentos são muito escassos e pouco explícitos. A verdade é que voltaria à costa angolana em 1575, dotado de uma carta de doação concedida pela coroa, com o cargo de capitão e governador e com o objectivo claro de sujeitar e conquistar o reino de Angola, “para se nele haver de celebrar o culto e ofícios divinos” e “pelo muito proveito” para o rei de Portugal e para os seus naturais.

Partiram de Lisboa no final do ano de 1574 e alcançaram a baía de Luanda, da parte de dentro da ilha, no mês de Fevereiro do ano seguinte. O local era bastante mais aprazível e próprio para uma invernada do que a barra do Cuanza, registando-se que já ali viviam alguns portugueses. Em 1576 Paulo Dias de Novais decidiu fixar-se em terra, no morro onde veio a ser construída a fortaleza de S. Miguel, e onde foi criada a vila de S. Paulo da Assunção de Loanda, núcleo primitivo da cidade que ainda hoje existe.

A presença portuguesa não foi, de todo, pacífica, sobretudo porque pressupunha um esforço de conquista, mas foi definitiva. Paulo Dias de Novais viria a falecer a 9 de Maio de 1589, em Massangano, onde fundara uma pequena povoação e implantara a igreja que lhe viria a servir de sepultura.

Gentilieza de Sam Valentine

Paulo Dias de Novais, segundo a efígie das antigas notas de dois angolares e meio, da Junta da Moeda de Angola.

1 comentário Adicione o seu

  1. KissondeYango Kissonde disse:

    Deus sabe que os portugueses e pares são mestrados em falsificar a verdeira História dos Kimbundu, era bom se os meus antepassados estivessem presentes e o Papa também para dizem a verdade porque Angola Ndongo nunca foi parte do Kongo, o Rei Ngola Angola preferiu morrer sem falar com o vizinho traidor do Norte…

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